Faz muito tempo que não atualizo esse “Manuscrito da Criação”, se você ainda não sabe do que se trata isso, eu te explico:
“Manuscrito da Criação” é um espaço, que começou lá no Wattpad, onde eu trago uma espécie de “Diário de Escrito”, mas não necessariamente sobre escrita, também sobre muitas coisas dos bastidores.
Esse “capítulo” é para eu deixar registrado o que eu dificilmente mostro dos bastidores, e para me lembrar no futuro que nunca foi sorte.
Se você conhece algum autor ou artista independente, deve saber os perrengues que passam nos bastidores. Se você apenas imagina, neste texto eu vou te mostrar alguns que eu enfrento diariamente.
Você pode encarar como reclamação, eu faço como desabafo, pois estou cansado e manter isso somente na minha mente vai me levar por caminhos que eu já percorri, e não quero seguir novamente; a desistência.
Ser um autor independente significa que você vai fazer tudo sozinho, ou uma boa parte, e vai fazer por muito tempo antes de colher qualquer fruto. Neste momento, estou apenas fazendo sem colher muita coisa, mas mesmo sabendo que algo irá brotar disso, não tem como manter o sorriso e o otimismo todos os dias, deixar a energia lá em cima, e continuar vibrando alegremente. Em alguns momentos o cansaço irá te dar aquele cruzado de direita o fazendo beijar a lona e você vai ouvir a contagem ecoando distante antes da vida anunciar o nocaute.
Ultimamente eu tenho me levantado quando a contagem chega no sete, oito...
Os bastidores por aqui são preenchidos por projetos que pagam as contas. Após muito tempo posso falar que hoje trabalho para e com as pessoas que eu sempre sonhei. Aquele “cliente ideal”. Aqueles projetos que você mergulha de cabeça, dá o seu melhor e se sente parte de algo que modifica a vida das pessoas. E se não entendeu, ou não sabe, do que estou falando, além da escrita eu também atuo como designer de infoprodutores e hoje eu sou fixo de uma pessoa incrível e inspiradora, e somente por isso eu tenho conseguido dar andamento nos meus projetos pessoais, quando eu consigo uma folguinha entre uma demanda e outra – pois eu continuo fazendo diagramações para autores independentes e editoras - numa escala bem menor por questão de agenda e prioridade, mas ainda atuo nessa área também.
E aí que se instala o cansaço.
Trabalhar com criatividade pode parecer em um primeiro olhar algo tranquilo, afinal, a pessoa fica sentadinha de frente para um computador. Mas, a mente fica parecendo um canteiro de obras infindável. A fadiga mental no final do dia faz seu corpo doer como se tivesse corrido uma marota.
Não acredita em mim? Tenta ficar mais de 8 horas estudando exaustivamente sentado no mesmo lugar e depois me conta se depois disso sua vontade não foi de se jogar na cama sem mover um músculo sequer.
Ser um autor independente significa, para mim pelo menos, que depois do turno daqueles projetos que pagam as contas, é hora de se dedicar a todas as outras coisas que só você poderá fazer; escrever, reescrever, criar, divulgar, vender...
Se engana qualquer um que pensa que o trabalho do autor independente acaba quando ele finaliza a escrita de um livro. Confesso que eu estive menos cansado antes de começar toda a divulgação da Pré-venda de Semente de Âmbar.
Minhas jornadas de trabalho começam normalmente às 8h - 9h (pois eu trabalho home-office, então eu quase acordo com o computador na mão) e finaliza lá por volta da 00h, 2 da manhã. Eu crio e desenvolvo todo o conteúdo que vai para o meu feed (posts – artes – textos – legendas – vídeos), penso constantemente o que eu posso mostrar para você além de uma arte bonita com a capa dizendo apenas "já em pré-venda", preciso pensar em formas que desperte interesse em você para adquirir meu livro.
Constantemente tentando inovar, entrar em trends das redes sociais, cativar e me aproximar de você. Passo horas fazendo um post para no fim ele ser engolido pela quantidade de outros posts que surgem no seu feed, (isso quando o algoritmo não faz aquela sacanagem e deixa de entregar o conteúdo, dificultando ainda mais que outras pessoas vejam o que eu tenho para mostrar).
E eu sei que enquanto eu não for “relevante” ou estiver no “hype do momento”, você não vai parar para ver meu post, não vai curtir, muito menos compartilhar.
E todo esse movimento diário contra fatores sabotadores cansa. E cansa muito.
A rotina te deixa cansado. A frustração te deixa exausto.
E eu sigo lutando contra a exaustão de continuar sendo uma voz pequena, com pouca notoriedade, lutando contra dezenas de outros estímulos que você recebe nas redes sociais. Lutando contra gigantes do marketing do livro, por mais que não exista uma competição clara, eu sei que você pagará R$ 57,90 em um livro da Darkside que não conhece tão bem e vai torcer o nariz para pagar o mesmo em um livro nacional de um autor que você até acompanha nas redes sociais, mesmo que ele tenha sido feito com extremo cuidado, desde a revisão até a impressão.
O fato é que editoras como a Darkside possui uma equipe grande e mega eficiente para fazer todo o marketing do livro, e dinheiro para fazer isso rodar. O autor independente além de ser o próprio publicitário, vendedor, gerente, e no meu caso, capista e diagramador, não terá em sua projeções financeiras valores expressivos para investir pesado em divulgação, como comprar publicidade em sites relevantes que tratam de literatura, ou injetar em ADS de Facebook e Instagram para alcançar milhões de pessoas.
E mesmo trabalhando arduamente, você vai ver aquele post caprichado que você levou horas para desenvolver chegar a umas 100 pessoas, e ser curtida por umas 20(?).
Por reconhecer e valorizar todo o meu esforço, que eu tenho me agarrado em me alegrar a cada nova venda do meu livro. E não, eu não vendi centenas de exemplares, faltam alguns ainda para bater a meta de 30 – que é a quantidade que eu consegui viabilizar dos brindes exclusivos.
Quando você olhar para um autor reconhecido no mercado, não pense que ele teve sorte. Tudo o que eu relatei aqui não é nada particular, ou só acontece comigo. Nesse exato momento, dezenas de outros autores estão andando na corda bamba e se deixar cair significa largar a escrita e deixar para trás sonhos e planos.
O cansaço me deu aquele golpe que me fez beijar a lona, e estou ouvindo a vida contar, 5...6...7... se eu continuar aqui, caído, eu vou a nocaute.
Mas veja, eu tenho um pouco mais de vinte pessoas, na arquibancada, gritando pelo meu nome, eles querem me ver de pé. Hoje eu tô cansado, hoje eu não consigo levantar e sorrir, mas por vocês, eu prometo que não serei nocauteado.
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